sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A relação entre a literatura e o cinema:

A importância e os melhores exemplos de adaptações de livros para os cinemas 

A literatura e o cinema sempre estiveram ligados, principalmente com as adaptações que já provaram por A + B que dá muito certo. Muitos dizem que os livros sempre serão melhores que as versões cinematográficas, mas a verdade é que algumas das melhores obras do cinema foram baseadas em livros e as pessoas talvez nem percebam. A verdade é que as adaptações são maneiras diferentes de contar uma história e são essenciais para a criatividade artística. 

A literatura e o cinema são formas de arte e de expressão que se completam. O próprio roteiro do filme é um formato literário adaptado para as filmagens posteriores. Algumas pessoas condenam as adaptações de livros para o cinema, que os filmes nunca contarão a história com os mesmos detalhes e complexidade das palavras contidas no livro e que é uma espécie de “falta de criatividade” dos idealizadores do filme. Eu discordo totalmente, inclusive, penso o contrário: é preciso muita criatividade e perfeccionismo para fazer uma adaptação que seja tão boa quanto o livro, por isso, admiro os cineastas quando vejo que um filme que gosto é adaptado de um livro. 

Alguns exemplos interessantes de adaptações de livros para o cinema vem de autores mais antigos e consagrados. “O Corvo” de Edgar Allan Poe foi retratado no cinema recentemente (e foi um fracasso de crítica e bilheteria), mas existe uma adaptação homônima de 1963 que é mais satírica e surreal, bem interessante e surpreendente. Pouca gente conhece, mas “O Corvo” foi um dos primeiros filmes de Jack Nicholson. A história fala sobre dos bruxos que duelam pela supremacia da magia (os dois bruxos em questão são nada mais, nada menos que Vincent Price e Boris Karloff). Já dá pra perceber que por mais que seja uma adaptação, não tem muito a ver com o conto original. A liberdade criativa e o bom humor fazem dessa obra um tanto diferente, até estranha, mas ainda sim, muito boa. 

Outra autora consagrada com adaptações no cinema é Agatha Christie. A criadora de personagens como Hercule Poirot e Miss Marple possui algumas obras bem interessantes retratadas nos filmes. Talvez a mais conhecida seja “O Expresso do Meio Oriente”, o livro de 1934 foi adaptado nos cinemas em 1974 com o mesmo título. O filme foi dirigido pelo excelente Sidney Lumet com várias estrelas no elenco, como Albert Finney (como o detetive belga Poirot), Ingrid Bergman, Anthony Perkins (o eterno Norman Bates de “Psicose”), Sean Connery, Vanessa Redgrave, entre outros. 

O livro/filme fala de um assassinato no Orient Express, no qual Poirot embarcou por acaso, e agora todos os passageiros são suspeitos de terem cometido o crime. Venceu na categoria de melhor atriz coadjuvante (Ingrid Bergman), além de ser indicado nas categorias de melhor ator (Albert Finney), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor figurino e melhor trilha sonora. 

Talvez o livro mais famoso dela seja “O caso dos dez negrinhos” (título que causou muito alvoroço na época por conta de alegações de racismo). Esse livro não possui nenhum dos personagens consagrados de Agatha Christie, como Poirot, e conta uma história de dez pessoas que são convidadas por um desconhecido e sua esposa para uma temporada de férias numa mansão localizada numa ilha. As pessoas aos poucos vão morrendo para “pagar por seus pecados”, obedecendo a uma cantiga infantil. A medida que alguém morre, uma estatueta das dez que estão na casa desaparece. Foram feitos vários filmes e séries, mas o mais considerado é chamado “O Vingador Invisível” de 1945. Apesar do título fraquinho, o filme é bem interessante e as atuações são excelentes, mas o final é diferente do original, mostrando mais uma vez que as adaptações não precisam ser 100% fidedignas. 

Outro filme baseado numa obra de Agatha Christie é o excelente “Testemunha de Acusação”. Pouca gente sabe que esse filme de 1957 é adaptado, pois a história é diferente das convencionais dela, mas é um dos melhores (se não for o melhor). Conta a história de Leonard Vole (interpretado no filme pelo aclamado Tyrone Power), acusado de ter assassinado uma rica senhora viúva, que deixou a herança para ele. A esposa de Vole é uma alemã misteriosa que não se sabe de que lado ela está. Um famoso advogado (interpretado brilhantemente por Charles Laughton), que acabara de sair do coma por conta de uma parada cardíaca, pega o caso contrariando as recomendações médicas. No final do filme, uma voz anunciava: "A administração deste cinema sugere que, para que seus amigos que ainda não viram o filme possam melhor desfrutá-lo, você não divulgue para ninguém o segredo do final de Testemunha de Acusação.”. O filme recebeu seis indicações ao Oscar. 

Talvez o autor com mais adaptações para o cinema seja Stephen King. Com incontáveis livros de suspense/terror e inúmeros filmes baseados em seus livros. “O Iluminado” adaptado por Stanley Kubrick (que já falei no meu texto sobre Kubrick) talvez seja o mais premiado e renomado, o livro é excepcional e o filme é uma obra-prima. Outros filmes adaptados de obras dele são: Colheita Maldita, Um Sonho de Liberdade, Carrie: a Estranha, Cemitério Maldito, Christine – O Carro Assassino, It, O Apanhador de Sonhos, Louca Obsessão, Eclipse Total, O Aprendiz, entre muitos outros. Dois filmes parecem que não são cria de Stephen King por seu enredo diferente das obras de horror, mas são e vale a pena assisti-los: A Espera de um Milagre e Conta Comigo (que passava muito na sessão da tarde). 

As animações também tem vez nas adaptações. O que seria de Walt Disney sem seus desenhos baseados em contos infantis? Alice no País das Maravilhas, Branca de neve e os Sete Anões, Cinderela e A Bela Adormecida são ótimos exemplos de que adaptações podem ser obras de arte nas mãos certas. 

Capote foi um aclamado escritor que teve suas obras nas telonas. O sucesso “Bonequinha de Luxo” foi filmado em 1961 com Audrey Hepburn como protagonista. Concorreu a cinco prêmios do Oscar e venceu dois, por melhor trilha sonora e melhor canção. Mas sem dúvidas a obra-prima de Capote foi “A Sangue Frio”, publicado em 1966. Capote foi a Holocomb, cidadezinha do Texas de 270 habitantes, onde teve um brutal assassinato de uma família inteira em 1959. Com anos de pesquisa sobre o caso, Capote descreveu com precisão a investigação, a história dos quatro membros da família Clutter, assassinada, a reação da população e a história dos assassinos, Richard Hickock e Perry Smith (por quem Capote acabou se afeiçoando mais). Capote ia na cela entrevistar os assassinos até a execução de ambos, em 14 de abril de 1965. O livro demorou sete anos para ser concluído e nesse tempo, os capítulos eram divulgados aos poucos no jornal New Yorker. Essa foi considerada a primeira obra o movimento chamado “The New Journalism”, como um “romance não-ficcional”, o que abriu as portas para muitas outras obras influenciadas pelo livro. 

Como o livro teve essa repercussão e importância na literatura e no jornalismo, adaptações para o cinema não faltaram. “A Sangue Frio” (1967) e “Confidencial” (2006) são dois exemplos, mas o filme mais interessante é definitivamente “Capote” de 2005. Ele retrata além da história do livro, a relação e as pesquisas de Truman Capote. Philip Seymour Hoffman atuou com maestria, interpretando Capote com todo o seu carisma, arrogância, defeitos, “achismos” e convicções, sem esconder os seus defeitos. Com cinco indicações ao Oscar e o prêmio mais que merecido de melhor ator ao Hoffman. 

Por falar em jornalismo, nessa época de eleições nada melhor que uma adaptação de um livro histórico sobre jornalismo político. “Todos os Homens do Presidente”. O filme de 1976 foi baseado no livro homônimo de 1974 e fala de como dois repórteres inexperientes do Washington Post acabaram desvendando o escândalo do Watergate, entre 1970 e 1972, que culminou com a queda do presidente americano Richard Nixon. 

Os dois jornalistas, Bob Woodward e Carl Bernstein (interpretados por Robert Redford e Dustin Hoffman, respectivamente), foram desde o início das investigações, quando cinco homens foram detidos por invadirem a sede dos democratas, no edifício Watergate. Poucos acreditavam em Woodward e Bernstein e eles colocaram as suas vidas e o jornal em risco com suas acusações. Mas o jornal resolveu bancar a história, que acabou se tornando verdadeira e foi um dos maiores escândalos políticos da história americana. Woodward entrava em contato com um informante misterioso, identificado apenas como “Garganta Profunda” (o mesmo nome de um polêmico filme pornográfico da época). Garganta Profunda só se identificou em 2005, três anos antes de morrer com 95 anos. Era William Mark Felt, que foi vice-presidente do FBI na década de 70 e ajudou Woodward a desvendar a podridão e o esquema de escutas de Nixon e seus funcionários de alto escalão. Recebeu oito indicações ao Oscar e venceu quatro. Um dos melhores filmes de jornalismo investigativo, e é uma adaptação. 

Outro livro que virou um filme muito cultuado é “Um Estranho no Ninho”, de Ken Kesey. Tanto o filme quanto o livro se tornaram ícones da contracultura. Kesey foi cobaia de um estudo de drogas psicoativas e trabalhou num hospital de veteranos. Esses experiências foram influencias do livro, de 1962, que falava de um prisioneiro que se fingiu de louco para ser transferido para um manicômio, e lá ele descobre que as coisas não são tão fáceis como ele achava. O filme foi estrelado por Jack Nicholson e venceu cinco Oscars. 

Caso você não esteja convencido ainda da importância das adaptações literárias do cinema, outros exemplos importantes são: Laranja Mecânica, 2001: Uma Odisséia no Espaço, O Guia do Mochileiro das Galáxias, Ben-Hur, Doutor Jivago, O Júri, Ensaio sobre a Cegueira, Dom Casmurro, O Guarani, O Jardim Secreto, entre muitos outros. A literatura e a sétima arte sempre andarão juntas, como unha e carne. Ambas são importantes para a propagação de cultura e para a criatividade humana. É preciso quebrar o mito de que filmes baseados em livro sempre serão piores que a história original, elas são apenas diferentes, até por conta de que os formatos são diferentes. Mas é inegável a importância de ambas e espero que haja mais adaptações maravilhosas nos cinemas. A crítica que faço é que existem muitas boas adaptações no cinema de livros, mas não há muitas coisas para dizer do contrário. As adaptações literárias de filmes são poucas e sem muito sucesso, deveriam existir mais livros posteriores aos filmes também. Fora isso, adaptações são sempre bem-vindas se forem criativas e inteligentes.
Felipe Kowalki

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